Municípios açorianos preparam-se para proibição do abate nos canis em 2022

O diretor regional da Agricultura dos Açores, José Élio Ventura, elogia o esforço das câmaras na preparação para o fim do abate de animais nos canis municipais, que entra em vigor na região em 2022. "Temos todas as condições para atingir esse objetivo, [já que] ainda temos um espaço de tempo com alguma relevância”, disse à Lusa o diretor regional, alertando para a necessidade de apoio da população, que deve estar sensibilizada para o problema do abandono de animais.

Na sua opinião, "provavelmente alguns municípios atingirão esse objetivo ainda antes dessa data”. O Centro de Recolha Oficial de Ponta Delgada, por exemplo, está a “preparar-se para conseguir essa medida antes de 2022”, afirma o veterinário municipal Vergílio Oliveira: “Em Ponta Delgada, desde 2016 que desenvolvemos uma série de ações que nos vão conduzir a um abate zero e esperamos que este abate zero se antecipe um bocadinho a essa legislação”. Os dados mostram que até julho de 2018 foram abatidos em Ponta Delgada, este ano, 91 animais, sendo que, em 2017, o centro de recolha oficial do concelho abateu um total de 632 animais, 359 dos quais até julho. A redução deveu-se a “uma série de esforços […] que muitas das vezes não passam para o público geral”, mas que “custam muito em termos de recursos financeiros, de recursos de pessoal, recursos de infraestrutura”.

“Tudo isso é um trabalho que se faz antecipadamente”, afirma Vergílio Oliveira. A situação é semelhante na ilha Terceira, onde o Centro de Recolha Oficial de Angra do Heroísmo iniciou o esforço de pôr fim aos abates “antes de existir esta legislação”, afirma o veterinário municipal Diogo Costa. “Já há seis meses que não fazemos abates no canil e penso que antes de 2022 vamos conseguir atingir esse objetivo, mas tudo depende daquilo que podem ser as consequências do não abate em canis municipais”, refere.

A maior consequência é a sobrelotação dos canis, um problema que põe “em causa o bem-estar dos animais a nível do alojamento”, lamenta Diogo Costa. O canil de Angra planeia ampliar as instalações, mas o responsável não sabe “se será suficiente porque, além de toda a esterilização que é feita, além do aumento de capacidade, para cães, sobretudo, esta medida do não abate pode ter consequências mais dramáticas quando entrar em vigor, porque as pessoas vão querer desfazer-se dos animais continuamente”. O problema do abandono de animais leva Diogo Costa a afirmar que o período de adaptação “é insuficiente para que os municípios estejam todos preparados para acabar com os abates nos canis”.

O veterinário considera que a região está em “vantagem em relação ao continente”, porque vai “levar dois ou três anos a ouvir sistematicamente, através dos média e não só, as situações do impacto de uma lei de fim de abate nos canis, e isso pode trazer a vantagem de nos ajudar a sensibilizar a população açoriana para isso”. No continente, a proibição entra em vigor em 23 de setembro. A Direção Regional da Agricultura diz-se atenta ao problema dos animais de companhia errantes e já implementou uma série de medidas, como o apoio financeiro a organizações de proteção animal, criação de uma base de dados ou campanhas de sensibilização para o abandono animal.

José Élio Ventura afirma que "os requisitos não estão a ser respeitados na íntegra, mas verifica-se um esforço da generalidade dos municípios muito grande no sentido de acompanhar toda essa problemática que está associada aos animais abandonados e criar condições para que rapidamente se consiga atingir o objetivo de não ter animais eutanasiados nos Açores em 2022". Os dados mostram que o número de animais recolhidos nos canis do ano passado e deste ano – ainda que em 2018 só haja valores de seis meses – “está mais ou menos dentro do mesmo valor”, “O número de animais adotados cresceu cerca de 10%, apesar de ainda existir um hiato entre o número de adoções e o número de animais que deram entrada", mas "o número de animais eutanasiados, até à presente data reduziu-se de forma substancial, o que, naturalmente, é um bom sinal", explica. O responsável adiantou que estão a ser feitos esforços de melhoria de condições em vários canis da região e acredita que até 2022 haverá em todas as ilhas centros de recolha oficial.

Fonte: Açoriano Oriental

18/09/2018